sábado, 12 de abril de 2014

Edgar Allan Poe - O CORVO

O CORVO *
(de Edgar Allan Poe)

Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais."

Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!

Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais".

E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.

A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.Isso só e nada mais.

Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
"É o vento, e nada mais."

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.

E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
Disse o corvo, "Nunca mais".

Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome "Nunca mais".

Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".
Disse o corvo, "Nunca mais".

A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este "Nunca mais".

Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais".

Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!

Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!


sábado, 5 de abril de 2014

Arte Gótica

ARTE GÓTICA

No século XII, entre os anos 1150 e 1500, tem início uma economia fundamentada no comércio. Isso faz com que o centro da vida social se desloque do campo para a cidade e apareça a burguesia urbana.

No começo do século XII, a arquitetura predominante ainda é a românica, mas já começaram a aparecer as primeiras mudanças que conduziram a uma revolução profunda na arte de projetar e construir grandes edifícios.


ARQUITETURA

A primeira diferença que notamos entre a igreja gótica e a românica é a fachada. Enquanto, de modo geral, a igreja românica apresenta um único portal, a igreja gótica tem três portais que dão acesso à três naves do interior da igreja: a nave central e as duas naves laterais.

A arquitetura expressa a grandiosidade, a crença na existência de um Deus que vive num plano superior; tudo se volta para o alto, projetando-se na direção do céu, como se vê nas pontas agulhadas das torres de algumas igrejas góticas.

A rosácea é um elemento arquitetônico muito característico do estilo gótico e está presente em quase todas as igrejas construídas entre os séculos XII e XIV.

Outros elementos característicos da arquitetura gótica são os arcos góticos ou ogivais e os vitrais coloridíssimos que filtram a luminosidade para o interior da igreja.

As catedrais góticas mais conhecidas são: Catedral de Notre Dame de Paris e a Catedral de Notre Dame de Chartres.

ESCULTURA

As esculturas estão ligadas à arquitetura e se alongam para o alto, demonstrando verticalidade, alongamento exagerado das formas, e as feições são caracterizadas de formas a que o fiel possa reconhecer facilmente a personagem representada, exercendo a função de ilustrar os ensinamentos propostos pela igreja..

ILUMINURA

Iluminura é a ilustração sobre o pergaminho de livros manuscritos (a gravura não fora ainda inventada, ou então é um privilégio da quase mítica China). O desenvolvimento de tal genero está ligado à difusão dos livros ilustrados patrimônio quase exclusivo dos mosteiros: no clima de fervor cultural que caracteriza a arte gótica, os manuscritos também eram encomendados por particulares, aristocratas e burgueses. É precisamente por esta razão que os grandes livros litúrgicos (a Bíblia e os Evangelhos) eram ilustrados pelos iluministas góticos em formatos manejáveis.

Durante o século XII e até o século XV, a arte ganhou forma de expressão também nos objetos preciosos e nos ricos manuscritos ilustrados. Os copistas dedicavam-se à transcrição dos textos sobre as páginas. Ao realizar essa tarefa, deixavam espaços para que os artistas fizessem as ilustrações, os cabeçalhos, os títulos ou as letras maiúsculas com que se iniciava um texto..

Da observação dos manuscritos ilustrados podemos tirar duas conclusões: a primeira é a compreensão do caráter individualista que a arte da ilustração ganhava, pois destinava-se aos poucos possuidores das obras copiadas, a segunda é que os artistas ilustradores do período gótico tornaram-se tão habilidosos na representação do espaço tridimensional e na compreensão analítica de uma cena, que seus trabalhos acabaram influenciando outros pintores.

PINTURA

A pintura gótica desenvolveu-se nos séculos XII, XIV e no início do século XV, quando começou a ganhar novas características que prenunciam o Renascimento. Sua principal particularidade foi a procura o realismo na representação dos seres que compunham as obras pintadas, quase sempre tratando de temas religiosos, apresentava personagens de corpos pouco volumosos, cobertos por muita roupa, com o olhar voltado para cima, em direção ao plano celeste.

Os principais artistas na pintura gótica são os verdadeiros precursores da pintura do Renascimento (Duocento):

        

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Principais Dúvidas sobre a Cultura Gótica



Anne Nurmi e Tilo Wolff
• Como surgiram os góticos?

O dito movimento gótico surgiu com a decadência do punk ao fim dos anos de 1970. A agressividade, marca maior das críticas contra a sociedade, e a evidente ausência de conteúdo já não eram capazes de satisfazer a própria geração que as alimentava, de modo que iniciou-se uma nova era de cultismo e introspecção.
O gótico é, portanto, sucessor do período pós-punk que ganhou impulso através do fascínio por uma cultura medieval ultra-romântica retratada pela literatura do século XIX e que, na verdade, jamais existiu.

• Estilo ou cultura?

A grande diferença entre o gótico e as outras tribos urbanas está na existência de uma ideologia. Ao contrário da maioria dos movimentos sócio-culturais, o gótico atrai - e mantém - seguidores de todas as idades, desde adolescentes de 15 a adultos de 35 anos.
A cultura gótica, em suma, é de um conceito que reúne extremos como amor e sofrimento, prazer e dor, sexo e morte; acredita que a Morte (com letra maiúscula) espera-nos de braços abertos ao longo de toda a nossa vida e preza o individualismo em uma sociedade cada mais mais fria e comercial.

• Por que os góticos se vestem de preto?

Preto: que é de cor escura; negro.
Que causa sombra; que traz escuridão.

Psicologicamente associada pelo inconsciente humano aos sentimentos de dor e tristeza, a cor preta confere um aspecto de mistério e pesar. Por sua grande facilidade em transmitir dramaticidade e negativismo, é a principal base da estética gótica.

• Qual a importância da maquiagem gótica?


A maquiagem, excessivamente pesada e teatral, é parte da caracterização cênica e ajuda a exprimir o sentimentalismo através de uma aparência mórbida, mutilada e muitas vezes doentia.
Ao contrário do que se possa imaginar, emprega - principalmente aos olhos - fortes graduações de vermelho, roxo e rosa (embora de, assim como acontece com as roupas, basearem-se sempre no preto).

• Por que góticos frequentam cemitérios?


Atraídos pela atmosfera austera e lúgubre dos cemitérios, muitos góticos - mas não todos - encontram entre as sepulturas a personificação de seu próprio mundo interior e sentem-se mais próximos e conscientes do frágil limite entre a vida e a morte.
Costumam apreciar a arte funerária e, tanto individualmente quanto em grupos, refugiam-se entre os mortos das agitações que os perturbam para encontrar tranquilidade e inspiração, ler ou ouvir música.

Quanto a frequentá-los durante a noite, que fique claro que isso nada tem a ver com atos de vandalismo que são muito comumente atribuídos aos góticos - mas sim com o fato de que, envolvidos pela escuridão da noite, os cemitérios tornam-se vazios e prazerosamente ermos.

• Por que os góticos preferem a noite?

Além de preteriem a exposição ao sol (uma vez que muitos procuram manter a pele alva e pálida), os góticos sentem-se mais atraídos pela aura fúnebre da noite. Inclusive, é quando vêem-se envolvidos pela sua escuridão que sentem-se um pouco mais imunes aos olhares e julgamentos que enfrentam nas ruas durante o dia.

• Existe alguma religião ou crença diretamente relacionada aos góticos?

Crenças milenares - como o Cristianismo e o Paganismo, por exemplo - costumam ser muito discutidas pelos góticos, mas nenhuma religião, seja ela de qualquer espécie, caracteriza a sua cultura.
Embora existam muitos seguidores da antiga Wicca e de outras vertentes pagãs que antecederam o período medieval, a grande maioria é constituída por agnósticos e, principalmente, ateus. Em extremo oposto ao que se costuma dizer, satanistas são muito raros.

• Góticos são mesmo tão sombrios e frios quanto aparentam?

Os góticos tendem a um humor irônico e até mesmo hipérbole ou indiferente, mas, naturalmente, cada um continua a ter sua própria personalidade. São comumente nostálgicos e introspectivos, mas não necessariamente frios.

• Para ser gótico, é preciso ser depressivo?


É importante ressaltar que, antes de pertencerem a qualquer tipo de grupo, todos são seres humanos que sofrem alterações de humor, sentem fome, frio e envelhecem ao longo dos anos. A depressão é um distúrbio psicológico que não deve ser confundido com os sentimentos de tristeza ou melancolia e muito menos com a cultura gótica.
Um gótico, independentemente do quão tétrica possa ser a sua aparência, pode perfeitamente ser o máximo expoente da alegria. Vê-lo sorrir, relacionar-se com outras pessoas que não chegam nem perto de ser góticas ou vestir-se com roupas que não pretas ou brancas não deve ser encarado como algo sobrenatural.

• É possível ser gótico mesmo sem vestir-se a caráter ou gostando apenas de rock?

Certamente que sim. Vestir-se a caráter é apenas uma maneira de exteriorizar idéias e opiniões. Existem góticos - embora sejam poucos - que não se vestem como tais, e estes são, em geral, góticos mais velhos que precisaram adequar-se ao trabalho ou que não sentem necessidade de desenvolver a caracterização cênica em situações normais do dia a dia.
E, quanto à música, o mesmo se aplica: o gótico não é apenas um gênero musical, mas também literário, artístico e social. Além do mais, não existem regras que definem o que é ou não permitido e correto; entretanto, acredita-se que o desejo de identificar-se como gótico seja uma consequência da empatia pelas várias - se não por todas - áreas da cultura.

• Existe muito preconceito em relação aos góticos?


Helena Bonham Carter e Tim Burton

Se nos referirmos à sociedade como um todo, pode-se dizer apenas que é lamentável assistir à capacidade das pessoas em criticar algo que elas sequer conhecem. A discriminação e o preconceito são praticamente palpáveis. Entretanto, a admiração e o verdadeiro respeito também podem ser vistos e sentidos, mesmo que em uma muito menor escala.
Infâmias, humilhações e estereótipos existem, sim, mas a segurança e a autoconfiança devem ser inabaláveis para que não se curvem diante dos muitos insultos que certamente virão.

• Como a família e as pessoas mais próximas costumam lidar com essa escolha?

Como a descoberta e respectiva identificação com a cultura gótica costumam acontecer durante o período naturalmente conturbado que é a adolescência, é normal que a reação dos pais e antigos amigos não seja das melhores.
Entretanto, nada mais compreensível: por terem acompanhado seus filhos em cada etapa da infância, é de se esperar que os pais sejam os primeiros a lançar mão de comentários desagradáveis sem nem mesmo preocupar-se em disfarçá-los. Mas, assim como a família, acredita-se que boa parte dos amigos consiga assimilar as mudanças que virão com o passar do tempo.

• Os góticos têm alguma tribo rival?

Tecnicamente, não. Embora atualmente exista certa tensão em relação aos recém-criados emos, os góticos têm como uma de suas principais características a tolerância, o respeito e a não-violência.
O fato é que os primeiros góticos surgiram há cerca de 25 anos a mais do que os emos, que vivem hoje a sua primeira e já decadente geração. Em sua maioria adolescentes vestidos de preto e exagaradamente influenciados pelo sentimentalismo pessimista, os emos passaram a ser confundidos com os góticos - que, em meio à febre deste novo modismo, passaram a ser pejorativamente chamados de emos.
Se não há conflito, há ainda menos aproximação. Embora a sociedade pareça sentir prazer em alimentar a antipatia entre os dois grupos, é verdade que os góticos costumam considerar os emos como cópias mal e porcamente forjadas de seus hábitos e idéias.

Quanto a punks e, principalmente, skinheads, não é necessário dizer que não existe uma rixa, mas sim um absurdo caso de discriminação que transforma não apenas góticos - como também homossexuais, estrangeiros e negros - em vítimas de agressões físicas e morais.

• Em que consiste a música gótica?

A música gótica tende a reunir instrumentos sinfônicos ao ritmo profano das mais agressivas vertentes do metal. Inclusive, o gothic metal utiliza-se tanto de sopranos (femininos) agudos quanto de vocais sombrios e guturais que inspiram violência à perfeita união das músicas clássica, sacra e erudita com o metal, o doom e o punk rock.
As letras, pesadas e impregnadas pelo sentimentalismo mórbido e ultra-romântico, podem referir-se tanto às percepções do compositor quanto à sociedade ou tratar de temas épicos, míticos e religiosos.

• Quais são os principais nomes da música gótica atual?


Type O' Negative

Além das clássicas e pioneiras The Cure e The Sisters of Mercy, nos últimos anos nomes como Lacrimosa, Tristania, Type O' Negative, Theatres Des Vampires, Nightwish, Epica e Era ganharam grande prestígio entre o público gótico; e, embora não se dirija exclusivamente a este tipo de público, a norte-americana Evanescence é um dos maiores ícones.
Existem também outras menos conhecidas - mas não menos importantes ou apreciadas - como Within Temptation, Lacuna Coil, My Dying Bride, Lacrimas Profundere, Blackmore's Night e Mortal Love.

• Quais são os principais expoentes da cultura gótica?


Evanescence

Os alicerces são poetas tradicionais, como o inglês Lord Byron; Álvares de Azevedo, principal autor do ultra-romântismo brasileiro no século XIX; e Edgar Allan Poe, célebre figura do terror norte-americano. Mas outras grandes inspirações da atualidade são o cineasta Tim Burton, que encanta com a estética sombria e adoravelmente bizarra de suas produções; e os escritores Anne Rice, autora de crônicas sobre vampiros e anjos, e Stephen King, mestre do suspense moderno.

Mesmo que de maneira relativamente hipérbole, a vocalista, pianista e principal compositora do Evanescence, a também norte-americana Amy Lee tornou-se um dos principais ícones para góticos de todo o mundo após o estrondoso sucesso de sua banda. Ainda no cenário musical, temos a figura pessoal de Tilo Wolff - fundador da alemã Lacrimosa.

Drácula, de Bram Stocker, e Nosferatu, baseado em Drácula e dirigido por F. W. Murnau, são duas criações clássicas que também inspiram a aparência de muitos góticos. Quanto ao teatro, os grandes nomes são de obras como O Fantasma da Ópera, de Gaston Leroux; Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet, de Christopher Bond; e Hamlet, de William Shakespeare.
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domingo, 20 de outubro de 2013

Das tripas, coração

Ela precisava trancar os sentimentos feridos em seu coração despedaçado. Precisava ir embora enquanto ainda podia.
– Labirinto, Kate Mosse

Vampiros – O mito confrontando a realidade


Atualmente, o assunto e tudo que se relaciona ao mundo dos vampiros vem gerando grande polêmica e aumentando cada vez mais o fascínio dos humanos para com esses seres, ditos como mitológicos ou folclóricos. 
Os assírios, que já acreditavam neles, deixaram como legado uma espécie de oração para expulsá-los. Os eslavos e russos pregavam que era necessário cravar-lhes uma estaca - principalmente se fosse de madeira, de preferência, a do espinheiro, pois pensava-se que a coroa de espinhos de Jesus Cristo fora feita com esse tipo de madeira. Então, poderia ser transpassada em seu coração uma estaca produzida com material do gênero ou até mesmo espetar-lhe um prego na testa. 

Descritos como mortos-vivos, na maioria das vezes também podem se transformar em morcegos para poder circular com mais e maior agilidade. Dormem em caixões pela manhã – afinal, reza o mito que após uma maldição os vampiros acabaram se tornando escravos do sol, assim como os lobisomens são escravos da lua; logo, podem ser literalmente queimados ao saírem no sol, da mesma maneira que em todas as noites de lua-cheia, o homem amaldiçoado se transforma em lobo – pela noite, os ladrões de vidas saem para se alimentar do sangue de suas respectivas vítimas, fonte de energia e força vital. A não ser que haja proteção com alhos, cruz e água benta; são outros elementos usados para afugentá-los, já que causa a sensação de queimação.                                                

Seus instintos são aguçados. As cores de seus olhos se alteram com certa frequência, dependendo da situação em que forem colocados. Os dentes caninos são pontiagudos e grandes, para que consiga perfurar a pele com facilidade e beber sangue. Mas a aparência assustadora de monstro pálido, deformado e até mesmo com chifres, foi aos poucos substituída pela boa lábia e sensualidade; o desejo tomou o lugar do medo. Os vampiros conseguem atrair facilmente suas presas e acabou por ser então, um  perigoso e ágil predador. 

- Entretanto, não existe alguma perfeita descrição da aparência dessas criaturas, já que ocorreram modificações nos relatos com o passar dos tempos e outras pessoas acreditem em uma diferente imagem.

• O nascimento do mito


Desenho associando Vlad III a um vampiro. 

Cada lugar, sua crença. Cada época, contos diferentes.

Mas afinal, como é que os vampiros – antes conhecidos como o próprio demônio – chegaram a ganhar tal repercussão e fama? Já sabemos que a história do Drácula é verdadeira.
O príncipe romeno Vlad III, chamado Drácula, viveu na Transilvânia no século XV e foi associado ligeiramente às histórias contadas sobre vampiros. Ele era conhecido pelo seu modo único e especial de tortura e execução: suas vítimas eram empaladas nuas e ainda vivas em compridas estacas que lhes penetravam o ânus e as entranhas até ao diafragma, depois as estacas eram erguidas e cravadas no solo. As vítimas reviravam demasiadamente até provocar sua morte, enfim. A partir daí, o príncipe ganhou o nome de Vlad, o Empalador

Apesar de ser causa de terror por sua falta de piedade para com os infelizes, Vlad só se tornou de fato ''Drácula, o vampiro'' quando em 1897, Bram Stoker
 trouxe o assassino-empalador para a literatura, escrevendo um grande romance que viria a ser uma das mais famosas obras literárias de todos os tempos. Para poder escrever, se baseou no que fora contado em um livro de viagens de Land Beyond the Forest, onde Emily de Laszkowska Gerard faz uma dissertação em relação às superstições a respeito de vampiros na Transilvânia e, principalmente, sobre Vlad.  E então, nasce o mito através de fragmentos da obra.

A crença acaba se infiltrando na boca e ouvidos da população, da mesma forma que as pessoas fazem questão de repassar, recriando aquilo que possivelmente aconteceu. 
O fato se confundiu com o surreal; a ideia de penetrar uma estaca no coração dos mortos-vivos e os métodos de tortura de Drácula o fizeram ser o pai dos vampiros e a Transilvânia se tornou o berço dos renascidos das sombras, movidos pela macabra escuridão e insaciável sede por sangue. 

• Vampiros na ficção 

Nosferatu, o primeiro e lendário vampiro cinematográfico. 

O cinema e a literatura absorveram as histórias, criando o estopim da onda vampiresca. Nos dias de hoje, qualquer mocinha faria de tudo para ser capturada e se render aos encantos de um vampiro. Abaixo segue uma lista de filmes e livros que deram vida aos seres da noite, sendo através de imagens e/ou palavras:

- Nosferatu (Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens) é um clássico de 1922, baseado no romance Drácula, de Bram Stoker. Teve que manter o nome de seus personagens e lugares modificados, pois os herdeiros do escritor não cederam os direitos autorais para que o diretor pudesse prosseguir com o original no filme. Conde Orlok/Nosferatu é digno de pena e nem um pouco desejado como os famosos vampiros galãs. 

Drácula (Dracula), filme estadunidense de 1931, do gênero horror, estrelado por Bela Lugosi. Foi o primeiro filme que levou as telas a história do famoso Conde Drácula. Em 1958,Christopher Lee herda o papel de Bela Lugosi e passa a ser o vampiro mais famoso do cinema até hoje. 

Fome de Viver (The Hunger) de 1983, com David Bowie – o eterno camaleão do rock – como vampiro e a belíssima e espetacular Catherine Devenue interpreta a vampira-mor. O gênero é assumido na forma mais dark e com direito a Bauhaus em sua trilha sonora.

Entrevista com o Vampiro (Interview with the Vampire: The Vampire Chronicles), filme norte-americano de 1994, baseado no livro de mesmo nome da escritora de suspenses Anne Rice. Além disso, o elenco conta com nomeados atores: Brad Pitt, Tom Cruise, Antonio Banderas e Kristen Duns
t. 

• Alguns dos principais livros que abordam o assunto: 

A Hora do Vampiro, de Stephen King.
Carmilla, obra de 
ficção gótica de 
Joseph Thomas Sheridan Le Fanu. 
Crônicas Vampirescas, de Anne Rice, que reúne um conjunto de obras da escritora narrando as histórias de vários vampiros. 

- A banda italiana 
Theatres Des Vampires é conhecida por se encaixar no gênero vampiric metal, utilizando como principal fonte de inspiração para suas músicas o vampirismo.

- Embora outras coisas relacionadas ao tema tenham chegado depois, aumentando a popularidade dos vampiros, a opinião crítica da maioria afirma que não existem mais filmes, séries de televisão ou livros atuais que consigam trazer ou capturar a verdadeira e antiga essência das histórias contadas sobre tais criaturas.

• Vampiros na psicologia 

Mesmo quando a irrealidade invade nosso dia a dia e a monótona rotina que estamos acostumados a conviver, saiba que, segundo a psicologia, existem casos denominados como vampirismo. Os Vampiros Emocionais são pessoas sugadoras de almas, manipuladoras, parasitas, que procuram algo para amaciar o ego imaturo e fantasista, sempre tentando encontrar, seduzir, caçar e atingir a presa certa para conseguir benefícios apenas ao seu favor; para o seu próprio bem e proveito, sem se preocupar com os danos que pode causar à pessoa ou aos outros que estão ao seu redor.

Os Bruxos


Muito mais do que um simples preparador de poções, um bruxo é capaz de provocar tempestades, lançar raios e transformar objetos sem valor em tesouros inestimáveis.

A palavra bruxo designa tanto agentes do bem quanto do mal. Uma das primeiras e mais conhecidas figuras de um bruxo foi encontrada em uma caverna ao sul da França; O Bruxo da Caverna Les Trois Frères data de mais de 10 mil anos e representa um homem vestindo peles e chifres de animais enquanto executa uma dança ritual. Antropólogos acreditam ser esta a mais antiga imagem do xamã, o mágico tribal responsável pela proteção da comunidade.



• Os bruxos na Antiguidade

Nas antigas civilizações da Babilônia, os mais temidos representantes da magia negra eram especializados em rogar pragas, furar bonecos de cera com alfinetes e invocar demônios. No Antigo Egito, rituais mágicos e histórias sobre eles faziam parte do cotidiano. Nos tempos do faraó Quéops (2600 a.C.) havia o conto do mágico Jajamanekh, que levantou as águas de um lago para ajudar uma jovem a recuperar seu enfeite de cabelo de turquesa.
Acredita-se que bruxos da Grécia e Roma pré-cristãs tenham praticado as artes da adivinhação, visto que a palavrasorcery (bruxaria, em inglês) deriva do latim sors, que significa destinoprofecia ou ler a sorte. O poeta romano Virgílio fala do mago Moeris, que podia transferir plantações de um campo para outro, transformar-se em lobisomem e ressuscitar os mortos.

• Xamãs

Embora sejam encontrados em muitas partes do mundo, os primeiros registros do xamanismo estão associados às culturas siberiana e esquimó. A gravura do século XVIII representa um xamã do povo tungu, da Sibéria.

Os métodos dos guardiões das tradições e mitologia das tribos primitivas remontam há pelo menos 30 mil anos e ainda sobrevivem. Em certas culturas, o xamã herdava seu posto; em outras, era indicado por seu antecessor. Havia ainda o homem comum que recebia um chamado por meio de um sonho ou visão; enquanto aprendia a controlar seus dons, ele se retirava para a mata e vivia isolado como um animal selvagem por semanas ou até mesmo meses. Segundo a tradição, ele teria um sonho através do qual receberia instruções de um espírito animal guardião a respeito de seu futuro, poderes e papel na comunidade. Após isso, retornava à sociedade e começava uma nova vida.

O xamã entrava em contato com o reino invisível dos espíritos animais ancestrais quando ficava em transe. Cantos e tambores acompanhavam a dança do xamã envolvido em um manto de penas que simbolizava seu voo para o outro mundo, de onde voltava com informações preciosas.
Em muitas culturas, os rituais eram acompanhados por exibições de poderes sobrenaturais executados por truques. Os xamãs podiam caminhar sobre fogo, escapar de armadilhas com cordas, engolir facas, comer vidro e fazer bonequinhas dançarem; por meio de ventriloquia, travavam conversas públicas com espíritos e certamente contribuíam para a eficiência psicológica da medicina xamã.

• Bruxos ou Magos?

Durante a Idade Média, se a magia fosse benéfica, seu autor era considerado um mago; se fosse nociva, então era um bruxo. Na Inglaterra, entre 1542 e 1604, quando foram passados os Três Autos de Bruxaria, qualquer tipo de prática desse gênero foi proibida, mas o número de magos acusados ainda era pequeno em relação ao de bruxos.
Os magos eram protegidos por seus próprios clientes, mas por outro lado ficavam vulneráveis aos fregueses insatisfeitos que podiam denunciá-los às autoridades por bruxaria. Mas, durante o Renascimento, apesar da conotação negativa, estudiosos, médicos e alquimistas como Nicholas Flamel também passaram a ser chamados de bruxos.

• Magos

Sem dúvida o mais famoso de todos os magos, Merlin era capaz de criar exércitos-fantasma, transformar a noite em dia e prever o futuro. Apaixonou-se pela feiticeira Vivien (A Dama do Lago) e revelou-lhe seus segredos mágicos; usando o que aprendera, ela lançou um feitiço que o aprisionou para sempre em um carvalho.

A figura do mago capaz de fazer qualquer coisa ficou conhecida em todo o mundo em 1940 com a animaçãoFantasia, uma adaptação de Walt Disney para O Aprendiz de Feiticeiro. Baseada na história de Luciano, autor romano do século II, e recontada pelo alemão Goethe, a obra retrata a bruxaria como algo maravilhoso para um grande mágico.

Durante o século XVI, a palavra mago passou a designar também astrólogos da corte e encantadores que faziam truques de mágica para divertir as pessoas - além de ser o termo preferido dos autores de ficção.
Os magos são símbolo de sabedoria tanto na literatura quanto na história: entre seus ancestrais estão milhares de homens e mulheres reais que viveram na Europa medieval. A maioria das aldeias tinha ao menos um mago profissional que oferecia uma variedade de serviços, como encontrar objetos perdidos, tesouros escondidos ou pessoas desaparecidas, ler a sorte, lançar ou quebrar feitiços, confeccionar amuletos e preparar poções.

Até o século XVII, a adivinhação servia como base para prisões e, se um mago denunciasse um ladrão, a acusação era levada a sério. Além disso, os magos também davam conselhos amorosos e ajudavam a decidir o rumo dos negócios; em troca, recebiam uma pequena gratificação ou donativo.
Assim como os magos, a maioria dos clientes era pobre, mas as classes mais altas da sociedade não hesitavam em procurá-los. Um mago de renome entre os aristocratas podia ganhar muito dinheiro com poções do amor e conselhos políticos.

• Rezadores


Dos tempos medievais até o século XIX, quase todas as cidades e vilarejos europeus tinham o seu mágico residente, que exercia um papel semelhante ao do xamã tribal. Conhecido como mago ou rezador (as mulheres eram chamadas benzedeiras), era consultado pelos mesmos motivos que levavam os antigos a procurar o xamã - cura, adivinhação -, mas não realizava cerimônias públicas, não entrava em transe e nem vestia peles de animais.
Os rezadores serviam de médicos e até mesmo veterinários, em aldeias menores. Tinham noções de astrologia, quiromancia e interpretação de sonhos aprendida em livretos populares. Muitos eram analfabetos e adquiriam seus conhecimentos através de colegas de profissão ou parentes, mas dizem as lendas que aprendiam seus segredos com as fadas.

Embora existissem leis contra a prática de magia, todos trabalhavam abertamente. Os rezadores das cidades cobravam mais caro e eram consultados por aristocratas riquíssimos. Um dos mais famosos rezadores de seu tempo foi Simon Forman, que viveu em Londres entre 1552 e 1611 e escreveu diários minuciosos sobre os tipos de assuntos que levavam seus clientes a procurá-lo - entre eles estavam comerciantes em busca de conselhos astrológicos e esposas de marinheiros pedindo pela segurança dos maridos.
Forman era astrólogo e, embora não tivesse direito de exercer medicina, realizou muitas curas (isso quando a medicina considerava benéficas terapias que a ciência moderna provou serem nocivas, como a sangria). De acordo com a tradição, ele teria feito um horóscopo em que previa a hora exata da própria morte, que ocorreu em 08 de setembro de 1611, enquanto ele remava no rio Tâmisa.

As Bruxas


A palavra bruxa, em sânscrito, significa mulher sábia - e assim elas eram vistas até serem inferiorizadas e marginalizadas pela Igreja Católica. Desde então, bastava que uma mulher casada perdesse a hora de acordar para que o marido pudesse acusá-la de estar sonhando com o demônio.

O estereótipo de uma bruxa - velha, de nariz comprido e com verrugas, cabelos desgrenhados, gargalhadas estridentes e chapéu pontudo - surgiu durante a Idade Média e permaneceu praticamente inalterado até os dias de hoje.
Por definição, uma bruxa é um indivíduo com poderes sobrenaturais de origem variada capaz de ferir ou curar com ervas mágicas e controlar o tempo, além de lançar feitiços, transformar objetos do cotidiano em animais e voar em vassouras - atividades que tem sido historicamente associadas à bruxaria há centenas de anos.

• As bruxas antes da Idade Média

Circe, a belíssima feiticeira da mitologia grega, transformava homens em animais, fazia florestas se moverem e  o dia virar noite. Homero (naOdisseia), Hesíodo, Ovídio e Plutarco relataram suas proezas. Em Harry Potter, sua biografia aparece em uma das figurinhas dos Sapos de Chocolate.

Em toda civilização - desde a Assíria, Babilônia e Egito até as aldeias da Europa medieval e tribos contemporâneas da África central e meridional - havia algum tipo de bruxa. Ilustrações em paredes de cavernas do período neolítico mostram celebrações de rituais simbólicos à fertilidade. Na Grã-Bretanha, as sacerdotisas druidas eram divididas em três classes: as que viviam em regime celibatário, de ordem mais elevada, e as que podiam constituir família e viver tanto nos templos quanto com seus maridos.

A antiga literatura greco-romana é rica em histórias de bruxas que preparavam poções mágicas com ervas e pedaços repugnantes de animais. Com os cabelos longos e desgrenhados, andavam descalças e, de acordo com a crença popular, eram vistas em cemitérios desenterrando ossos à meia-noite, colhendo plantas venenosas ou então adorando Diana (Ártemis para os gregos, deusa da lua e da caça) e Hécate (Trívia para os romanos, deusa da fertilidade e rainha da noite); dizia-se que algumas eram capazes de conjurar espíritos e matar com um simples olhar. As bruxas de Tessália (região norte da Grécia) eram tão poderosas que podiam aproximar a Lua da Terra. Apuleio, poeta romano do século II, descreveu-as como "capazes de fazer o céu cair, as nascentes secarem e destruir montanhas".

• As bruxas depois da Idade Média

As três bruxas de Macbeth, de William Shakespeare

Durante o pânico da caça às bruxas, entre os séculos XVI e XVII, as curandeiras das aldeias - que tinham conhecimento sobre ervas medicinais, faziam amuletos contra espíritos malignos e usavam poderes de adivinhação para encontrar objetos perdidos e identificar criminosos - foram as primeiras e principais acusadas.
Havia quem ainda acreditasse que essas mulheres podiam realizar feitos benéficos, como invocar a chuva e tornar os ventos favoráveis à navegação. Mas se antes elas eram respeitadas e temidas, agora respondiam por mortes súbitas de bebês e más colheitas.

The Witches' Sabbath, de Francisco Goya

De acordo com a crença, participavam de rituais macabros de assassinato, vampirismo e canibalismo e se reuniam regularmente em sabbaths (ou sabás, encontros noturnos em florestas ou campos isolados com danças e banquetes em culto a Satanás). sendo que chegavam até eles voando em vassouras ou no lombo de algum demônio tido como familiar.

Um familiar era um demônio sob a forma de um pequeno animal. Cada bruxa tinha ao menos um familiar que lhe dava conselhos e estava sempre à disposição para executar algum serviço maligno. Geralmente eram gatos, cachorros, sapos, coelhos ou corvos, mas também podiam ser porcos-espinho, fuinhas, furões, toupeiras, camundongos, abelhas ou gafanhotos. Tendo-os recebido diretamente do Diabo, eram gentis com eles e batizavam-nos com nomes engraçados; um trabalho bem feito era recompensado com algumas gotas de sangue da dona. Quando a bruxa era levada a julgamento, o familiar quase sempre escapava e poucos foram executados.

Segundo o Malleus Maleficarum, voar era um dom incontestável. O livro dizia que elas saíam pela chaminé de suas casas, mas que podiam ser lançadas ao chão ou impedidas de decolar pelo som dos sinos de uma igreja. No início do século XVII, a população de uma pequena cidade da Alemanha estava tão apavorada que, por algum tempo, o conselho municipal determinou que todas as igrejas batesse seus sinos sem parar, do anoitecer até o raiar do dia.
Enquanto alguns sábios e autoridades debatiam a ideia relembrando o Evangelho Segundo de São Mateus, que conta como Satã transportou Jesus pelos ares (logo, era perfeitamente possível que conferisse este dom às suas servas), outros mais sensatos rejeitavam que algo fisicamente mais pesado do que o ar pudesse voar e atribuíam a delírios da cabeça das mulheres as confissões de magníficos vôos noturnos.


Ao final da Idade Média, quando a bruxaria havia se tornado um problema sério na Europa, uma mulher poderosa e capaz de fazer magia era vista com desconfiança, mesmo que fosse apenas uma personagem de ficção. Morgana le Fay, por exemplo, é ora uma bruxa, ora uma fada (por isso le Fay) das literaturas francesa, italiana e inglesa do século XVIII, onde seria irmã ou meia-irmã do rei Arthur e aprendiz de Merlin. Após a Inquisição, novas versões da lenda arturiana passaram a retratá-la de maneira negativa. Em Le Morte d'Arthur, de Thomas Malory, Morgana tenta destruir o irmão e toda a sua corte.

Também quando a caça às bruxas começava a perder força - quando o estereótipo já estava bem definido e havia vasta literatura sobre o assunto -, os colonizadores ingleses levaram o pânico para a América do Norte, onde, em 1692, ocorreu o processo contra as Bruxas de Salém (Massachusetts). Foram cerca de 300 acusados de práticas infames e 19 enforcados.

• Por que as bruxas eram mulheres?


Para cada homem acusado durante o período mais intenso da caça às bruxas, três mulheres eram condenadas. Do ponto de vista da época, a história bíblica de Adão e Eva mostra claramente que as mulheres eram responsáveis por todos os pecados existentes no mundo - e, portanto, física, intelectual e moralmente mais fracas, vingativas, propensas à mentira e suscetíveis à tentação do Diabo.
A diferença entre uma parteira e uma bruxa, por exemplo, já era pequena: quando um recém-nascido morria, os pais podiam acusá-la de bruxaria. Idosas solteiras ou viúvas eram as mais acusadas, embora também houvesse jovens atraentes e abastadas condenadas à fogueira. Em uma sociedade controlada por homens, mulheres que não estivessem sob o jugo de um pai ou marido eram, no mínimo, suspeitas. O julgamento podia constituir uma maneira conveniente de expurgar esses membros desagradáveis da comunidade.

A Baixa Idade Média


O período da Idade Média, compreendido entre os séculos V e XV, divide-se em dois sub-períodos: Alta Idade Média (V à XI) e Baixa Idade Média (XI até o século XV). É no início da Baixa Idade Média, na França, que surge a Arte Cristã ou Opus Francigenarum (obra francesa), que, aos poucos, substituiria o estilo românico e futuramente, no período da Renascença, passaria a ser conhecida, pejorativamente, como Arte Gótica.

O Teocentrismo, baseado na concepção de que Deus é o centro do universo, foi a corrente de pensamento predominante no período medieval. Assim, a Igreja Católica, responsável pela "educação espiritual" dos homens, consolidou-se como a principal autoridade. O poder econômico e político, e as influências sobre as ciências e artes, subordinavam reinados ao comando do clérigo. Era a Igreja que ditava os rumos que a ciência deveria seguir, que dirigia os exércitos e proclamava as leis. Além disso, a peste negra do século XIV, a exploração do feudalismo e a imutável hierarquia social contribuíram para a criação de uma situação calamitosa no fim do século XV. No século seguinte haveria o início de uma reação em todos os níveis, com o começo da Idade Moderna e a transição sócio-econômica para o Renascimento.

A Renascença e a Idade das Trevas

O período iniciado a partir do século XV (apesar de iniciar em épocas diferentes em cada lugar e ter várias fases) conhecido como Renascença, que surgiu na Itália e distribui-se gradativamente por outras regiões do continente europeu, consolidou uma idéia de ressurreição nas artes e na ciência baseadas no resgate da Antiguidade clássica greco-romana.

Além de inovações nos aspectos políticos e sociais e avanços técnicos e científicos, foi na Renascença que outros continentes foram descobertos através da navegação, que nasceu a imprensa e inventou-se a bússola. Foi neste período que o alemão Martin Luther deu início à Reforma Protestante; que Michelangelo pintou a Capela Sistina; que Copérnico escreveu De Revolutionibus Orbium, entre outros.

Os renascentistas acreditavam que a arte clássica greco-romana, que admiravam e buscavam reviver, havia sido denegrida na Idade Média pelos cristãos e, que a Igreja, através do poder exercido pelos dogmas religiosos, vetava os avanços tecnológicos e condicionava a produção artística. Neste contexto renascentista inclui-se também uma forte oposição ao Clero, embutida no Antropocentrismo, corrente filosófica na qual o homem é o centro do universo e, naturalmente, oposta ao Teocentrismo medieval. Dessa forma, mesmo sendo considerada uma etapa evolutiva do período medieval, a Renascença desprezava a cultura da Idade Média.

Assim, grande parte da arte produzida na Idade Média, como a arquitetura, escultura e pintura, foi classificada como gótica, em alusão ao Godos, povo germânico que invadiu o império romano a partir do século III.

Esta classificação tinha a clara intenção de denegrir a produção artística medieval, por considerá-la bárbara, rude, grosseira, exagerada; ou seja, com os mesmos adjetivos que caracterizavam os Godos.

Assim, a civilização dos Godos, que havia sido diluída no século VIII, portanto, 700 anos antes da Renascença, tornou-se um "bode-expiatório" dos renascentistas e a própria palavra Gótico teve seu sentido ampliado, podendo ser compreendido como sinônimo de bárbaro ou vulgar. Ainda, ao longo dos anos, a Idade Média iria tornar-se conhecida como Idade das Trevas, Noite da Humanidade, entre outras denominações.

Racionalismo, Iluminismo e Revoluções

Personagens como René Descartes, John Locke, Pascal e Newton figuraram no século XVII. O Racionalismo, baseado no conceito de que apenas a Razão (raciocínio lógico) seria suficiente para o desenvolvimento da humanidade, e o Humanismo, resgatando os filósofos da Antiguidade, eram as correntes que influenciavam as artes e as ciências. No panorama artístico, a arquitetura, escultura e pintura, destacaram o Classicismo e o Barroco.

Em meados do século XVII surge Iluminismo - tendo seu apogeu no século XVIII - que de certo modo, é herdeiro dos conceitos racionalistas e humanistas dos séculos anteriores aliado a uma maior liberdade de expressão individual. É o movimento iluminista que proclama o início de uma "era de luz" para a humanidade e um dos impulsionadores do capitalismo, além de tornar-se uma das principais referências na arte.

Neste momento, surge na Inglaterra e alastra-se pela Europa, um fenômeno sócio-político que seria conhecido como a 1ª Revolução Industrial. Ainda, desenvolve-se o Liberalismo político/ econômico e consolida-se o capitalismo. Assim, o século XVIII torna-se conhecido como o "Século das Luzes". Porém, todas essas mudanças bruscas trazem efeitos colaterais no âmbito social.

Os avanços tecnológicos que proporcionaram a Revolução Industrial deram início a uma urbanização desenfreada e sem planejamentos com a migração do homem do campo para as áreas centrais, que resultaram em cidades sem infra-estrutura social e administrativa. As jornadas de trabalho tornam-se muito extensas e o valor da mão-de-obra, irrisório. Iniciam-se reações violentas por parte dos trabalhadores explorados e desempregados. Em algumas regiões, o número do crescimento populacional quadruplica. Em Paris, 25% da população é constituída por mendigos. Surgem as epidemias de tifo, cólera e tuberculose. Por outro lado, nascem os conceitos de capitalismo e a classe burguesa. No final deste século ocorre a Revolução Francesa (1789), que marca o início da era contemporânea. Baseadas em conceitos do Iluminismo, no século XVIII se desenvolvem as idéias Republicanas, postas em prática também na Independência dos Estados Unidos, em 1777. No Brasil, estas idéias também chegaram na mesma época, mas a nossa tentativa de independência, a Inconfidência Mineira, é abortada em 1789.

O quadro de miséria e desigualdade criado na Europa gerou uma insatisfação social e resultou num processo de regressão que buscava os ideais medievais ignorados pela Renascença. Inicialmente, essa tendência desenvolvia-se apenas no sentimento e comportamento coletivo. Porém, logo passou a designar um rumo artístico e uma nova visão do mundo centrada no indivíduo. A partir desta nova concepção iniciou-se o período do Romantismo.

O Romantismo


O Romantismo é um período cultural que se inicia na Europa no final do século XVIII, estendendo-se e desenvolvendo-se por outras partes do globo até o final do século XIX. Pode-se considerar que seu início ocorreu na Itália, Inglaterra e Alemanha (na Alemanha conhecido comoSturm und Drang - Tempestade e ímpeto). Porém, foi na França que o romantismo intensificou-se mais do que em qualquer outra nação. Foi através dos artistas franceses que os ideais românticos se solidificaram pela Europa e América. Sob o aspecto ideológico, o Romantismo pode ser considerado uma reação de fuga, ao iluminismo e racionalismo do período anterior.


As principais características do Romantismo são a valorização das emoções em temas que recorrem à religião, nacionalismo, amor, individualismo e subjetivismo, desenvolvidos a partir da originalidade e liberdade criativa do artista. Na pintura, o francês Delacroix e o espanhol Francisco Goya são os maiores representantes. Na música, ocorre a potencialização da expressão individual através de temas folclóricos e nacionalistas. Neste período romântico da música, destacam-se as últimas obras de Beethoven, além das composições de Wagner, Chopin e Schumann, entre outros. Mas foi através da Literatura que o Romantismo teve suas expressões mais intensas e solidificou sua identidade.

Romantismo Literário e Gothic Novel

A obra do escritor alemão Goethe, Os Sofrimentos do Jovem Werther, publicada em 1774 foi uma das precursoras do romantismo. Este livro trazia intensidade emotiva sob a liberdade criativa do autor, além de outros aspectos fundamentais do romantismo.


Além disso, uma das principais características do Romantismo Literário era a evocação à Idade Média em seus temas. Neste caso, o autor almejava uma idealização que não correspondia à sociedade ou ao período em que vivia realmente. Esta característica é conhecida como "Espírito de evasão". Porém, esta referência medieval do romantismo era sob uma perspectiva idealizada. Isto é, buscava resgatar valores como honra e valentia que, na visão do escritor, eram comuns no período medieval, mas que não necessariamente existiram.


Horace Walpole (O Castelo de Otranto - 1765) também abordou a Idade Média, mas diferentemente da "idealização positiva" de outros românticos, o fez através de uma visão soturna de cenários decadentes (como castelos em ruínas) que impunham um clima de mistério e terror sobrenatural ao leitor. Foi este conceito de terror e sobrenatural, entre outros elementos usados, que passou a ser classificado como Gothic Novel. Neste caso, o termo Gothic é aplicado como sinônimo de obscuro ou medieval. Ainda,Literary Gothicism, que no Brasil seria conhecido como Romance Gótico ouLiteratura Gótica, teria grande influência no ultra-romantismo brasileiro. Os termos Gothicism ou Goticismo devem ser associados apenas à Literatura.


Nas últimas décadas do século XVIII emergiram escritores como Ann Radcliffe, autora de Os Mistérios de Udolpho e a poesia de William Blake com Canções da Experiência e da Inocência(ambos em 1794), além de Frankenstein, de Mary Shelley, já no início do século XIX. Até as décadas de 30 e 40, o romantismo ainda figura como a principal orientação da produção artística. Essa tendência romântica atinge também a moda, hábitos e costumes da sociedade. Na França, por exemplo, há um resgate de elementos do vestuário, linguagem e costumes do período anterior à Revolução. Na Inglaterra, o Literary Gothicism ressurge na era vitoriana, entre a burguesia.


Ainda na primeira metade do século, tem início o Romantismo brasileiro. A obra Suspiros Poéticos e Saudades (1836) de Gonçalves de Magalhães é considerada a precursora desse estilo literário no Brasil. O Romantismo no Brasil estende-se "oficialmente" até 1880 e divide-se em três gerações: Nacionalista, Ultra-romântica e Condoreira.


Na segunda metade do século XIX surgiram outros movimentos que influenciaram várias expressões artísticas. O Esteticismo com o conceito de auto-suficiência da arte (arte pela arte), sem que esta sofresse interferência de outros valores, como sociais, religiosos ou políticos. O parnasianismo, essencialmente literário, que reagia aos excessos românticos e negava o subjetivismo, baseando-se no domínio da razão e nos ideais voltados para o belo. Também em reação aos excessos do Romantismo, surge o Realismo e o Naturalismo. No Brasil temos uma transição gradual, com autores como Machado de Assis, autor de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e inúmeros outros clássicos reconhecidos internacionalmente.

O Simbolismo

O Simbolismo, surgido na França na segunda metade do século XIX, caracteriza-se pelo subjetivismo, individualismo e misticismo; rejeitando valores do realismo e naturalismo como a abordagem social. Artes plásticas, teatro e, principalmente, Literatura, são orientadas pelas tendências simbolistas.

No Simbolismo literário rejeitava-se as formas parnasianas e valorizava-se a sugestão sutil das idéias, usando as metáforas como um de seus principais recursos. Ao mesmo tempo em que o Simbolismo criticava os excessos românticos, fazia uso de certos elementos deste, como o próprio subjetivismo. O Manifesto Simbolista (1886), de Jean Moreas, declara a poesia simbolista "inimiga do ensino, da declamação, da falsa sensibilidade, da descrição objetiva".

O ensaio de Poe, The Philosophy of Composition (1846), influenciaria também as teorias de Baudelaire, que por sua vez agiu diretamente sobre Mallarmé. A obra de Poe também se faz atuante sobre Rimbaud e Oscar Wilde e ainda sobre o Modernismo do início do século XX. Através de sua obra, As Flores do Mal (1857), Baudelaire passou a ser considerado o precursor do simbolismo literário.

Há ainda, o Decadentismo, no qual abandona o conceito de objetividade realista e volta-se às realidades interiores e subjetivas, compondo também a corrente simbolista. Porém, segundo Fernando Pessoa, esses movimentos, especialmente o decadentismo e o simbolismo, surgiram do romantismo e eram "inversão das posições mentais da inteligência".

O Modernismo

Neste momento, o pré-modernismo já sugeria os conceitos inovadores que se destacariam anos depois com a consolidação do Modernismo. A Belle Époque (aproximadamente 1900-1910), surgida na França, é resultado de um período otimista que se reflete nas artes, como o cinema, e nos níveis sociais, com o Cancan dos Cabarés e o glamouroso Moulin Rouge. Paris torna-se a capital mundial da cultura e os boulevards, livrarias e teatros consolidam a imagem da prosperidade intelectual e cultural francesa. Esta "atmosfera" entende-se até meados da década de 40 e consagra um período de ebulição cultural, política e social na Europa.

Nas primeiras décadas do século XX, Einstein anuncia a Teoria da Relatividade, Santos Dumont voa com o 14 Bis, Auguste Lumière concebe a fotografia colorida e, nas artes plásticas, surge o cubismo de Picasso e Braque. O escritor e teatrólogo francês, Antonin Artaud, é uma das figuras mais influentes no meio intelectual francês e europeu. Os movimentos vanguardistas, como o Art Nouveau na pintura e principalmente arquitetura, buscavam conceitos artísticos que represen- tassem as novas tendências da humanidade, mas principalmente, uma reação aos valores europeus dos últimos três séculos, movidos pelas incertezas políticas e pela psicanálise de Freud.

O arquiteto Le Corbusier foi um dos destaques modernistas, enquanto na música, Stravinsky e Shoenberg são ícones do movimento, além de Debussy, Satie, Stockhausen, John Cage e outros. Na Literatura Modernista, que de certa forma combinava-se com o Simbolismo, consagrou autores como T. S. Elliot, James Joyce, Fernando Pessoa, Apollinaire e Franz Kafka. A Staatliches Bauhaus, escola alemã de artes e arquitetura fundada em 1919, foi uma das maiores propagandistas e precursoras de movimentos vanguardistas até 1933, quando foi fechada pelo estado nazista na república de Weimar, sob a pena de "degenerar" a arte pura européia combinando-a com outras influências (orientais, por exemplo). Sendo esse conceito exatamente o oposto dos ideais fascistas que promulgavam a superioridade dos europeus.

Expressionismo

O Expressionismo surge em 1905, mas ganha força após a Primeira Guerra Mundial. O Expres- sionismo busca retratar a realidade com as proporções sentidas, não apenas reproduzir a realidade. Assim como o Cubismo busca mostrar vários pontos de vista em vários tempos, o Expressionismo também vem afirmar esteticamente que não existe uma realidade única. De certa forma, compartilha características comuns com o romantismo, como o subjetivismo, além do cubismo e simbolismo, e soa como uma reação artística à Primeira Grande Guerra. Nesse momento, há também uma influência das artes africanas e orientais dentro do contexto europeu.


O norueguês Edvard Munch é um dos precursores do expressionismo e sua influência estenderia-se e tornaria-se uma das mais intensas nos anos seguintes do movimento. Vincent van Gogh, que cometeu suicídio em 1890, portanto, 15 anos antes do surgimento "oficial" do Expressionismo, também teve grande influência entre os pintores expressionistas.

Cinema

No cinema alemão o expressionismo encontrou sua tradução para as massas. Os filmes O gabinete do Dr. Caligari (1920) e Nosferatu (1922), inspirado no livroDrácula de Bram Stoker (1897), Metrópolis (1927) eDrácula (1932, com Bela Lugosi no papel principal) são símbolos do expressionismo. Ainda no cinema, na década de 40 surgiu o Cinema Noir.

 


Baseado em Literatura policial, Cinema Noir tem como principais características detetives astutos, policiais inflexíveis, damas sensuais e vilões perversos, envolvidos em investigações e tramas conspiratórias. Outro elemento importante do Cinema Noir é a ambientação das tramas, que ocorre geralmente nas metrópoles americanas, envolvidas em uma atmosfera de sombras e mistério. Como nos filmes expressionistas, a fotografia em preto e branco ressalta este clima soturno.


A expressão Nouvelle Vague, criada pela escritora Françoise Giroud, surge na revista francesaL''Express em 1958, inicialmente, para designar um fenômeno contestatório dos movimentos artísticos. Porém, esta expressão viria fixar-se para definir o movimento cinematográfico francês que surge nesta mesma época.


Influenciada pelo neo-realismo italiano e por diretores norte-americanos como Alfred Hitchcock, John Ford e Howard Hawks, a Nouvelle Vague recria a linguagem cinematográfica e aborda essencialmente questões existencialistas, praticamente abandonando temas corriqueiros como política e sociedade. Ainda, traz como uma de suas propostas técnicas, a reação aos aspectos convencionais do cinema, principalmente, a narrativa. Nesse contexto, enquadram-se também obras de baixo orçamento com equipes reduzidas e filmagens em locais públicos.

Essas características influenciaram toda a cinematografia mundial, inclusive o cinema novo brasileiro. Jean-Luc Godard e François Truffaut são as maiores referências da Nouvelle Vague francesa. Algumas das principais obras da fase inicial da Nouvelle Vague são Acossado (de Godard), Os Incompreendidos e Jules et Jim, (François Truffaut), Hiroshima, Mon Amour (Resnais - 1959), Paris Nos Pertence (J. Rivette - 1960) e Trinta Anos Esta Noite (Louis Malle – 1963).

O sueco Ingmar Bergman também teve papel significativo. Entre seus filmes, destacam-se O Sétimo Selo (1956), onde um homem aposta sua vida jogando xadrez com a morte; Morangos Selvagens (1957), Persona (1966), Gritos e Sussurros (1972), e O Ovo da Serpente (1976), entre outros de intensa densidade dramática.

Impressionismo

O movimento impressionista, que buscava uma precisão maior nas cores e suas combinações, teve Renoir e Monet como suas principais referências na pintura. A música impressionista passa a descrever imagens e algumas obras trazem títulos como Reflexos na Água (Claude Debussy – França 1862 - 1918) baseada em estruturas modais do Oriente e do período medieval.

Dadaísmo


Em 1916, na cidade suíça de Zurique, surge o movimento vanguardista denominado Dadaísmo, que é compreendido por alguns como uma resposta das artes à 1ª Guerra Mundial. Caracterizado pela oposição a todo tipo de coerência e equilíbrio artístico, o dadaísmo abandonou os rigores acadêmicos e destacou a liberdade criativa através da arte abstrata. Seu slogan era: "A destruição também é criação".

Até mesmo a palavra dada foi escolhida ao acaso para batizar o movimento. Hugo Ball e Tristan Tzara, dois dos fundadores do dadaísmo, escolheram, aleatoriamente, uma palavra num dicionário alemão-francês. Dada, que em francês significa "Cavalo de Pau" numa linguagem infantil (pré-lógica) era um termo suficientemente vago e desconexo; ou seja, o ideal para representar o "espírito dadaísta".

O dadaísmo desenvolveu-se principalmente na literatura e artes plásticas até aproximada- mente 1921. Mas suas bases foram essenciais no modernismo. Principalmente para o Surrealismo, que é derivado direto do dadaísmo.

Surrealismo


Em 1924, a publicação de Manifesto do Surrealismo, de André Breton (inspirado pelos conceitos psicanalíticos de expressão do Inconsciente), marcou oficialmente o surgimento do movimento. No surrealismo, a criação artística manifesta-se livremente de modo a criar uma realidade subjetiva. Temas como a fantasia, tristeza e melancolia também são abordadas no surrealismo.

Na década de 20 o Surrealismo desenvolve-se também no Cinema. Um cão Andaluz (1928) do espanhol Luis Buñuel escrito em parceria com Salvador Dali é considerado um manifesto do cinema surreal. Dois anos mais tarde, Buñuel produz A Idade do Ouro, outra referência do movimento. O Anjo Exterminador, A Bela da Tarde, O Discreto Charme da Burguesia e o Obscuro Objeto do Desejo, também são obras significativas de Bruñel. Em 1932, o francês Jean Cocteau produz Sangue de um poeta.

No cinema surrealista não há preocupações com enredos. Apenas as imagens expressam desejos irracionais através de metáforas visuais. Além do desprezo pela burguesia, convenções morais, religiosas e políticas.

Cabaret Culture

Oficialmente, a Cabaret Culture compreende o entre-guerras (1918-1939). Mas antes, os Cabarés já reuniam vanguardistas que filosofam sobre política e inovadoras tendências artísticas. A "cultura de cabaré" instaura movimentos que se denominam underground, alternativo ou contra-cultura pelos pensadores. As obras do escritor Bertold Brecht e do músico Kurt Weil (ambos alemães) são sólidas referências deste período. Enquanto o fascismo de Benito Mussolini e Stalin e o nazi-fascismo de Hitler impunham a tirania sobre a Europa.