terça-feira, 22 de outubro de 2013

Principais Dúvidas sobre a Cultura Gótica



Anne Nurmi e Tilo Wolff
• Como surgiram os góticos?

O dito movimento gótico surgiu com a decadência do punk ao fim dos anos de 1970. A agressividade, marca maior das críticas contra a sociedade, e a evidente ausência de conteúdo já não eram capazes de satisfazer a própria geração que as alimentava, de modo que iniciou-se uma nova era de cultismo e introspecção.
O gótico é, portanto, sucessor do período pós-punk que ganhou impulso através do fascínio por uma cultura medieval ultra-romântica retratada pela literatura do século XIX e que, na verdade, jamais existiu.

• Estilo ou cultura?

A grande diferença entre o gótico e as outras tribos urbanas está na existência de uma ideologia. Ao contrário da maioria dos movimentos sócio-culturais, o gótico atrai - e mantém - seguidores de todas as idades, desde adolescentes de 15 a adultos de 35 anos.
A cultura gótica, em suma, é de um conceito que reúne extremos como amor e sofrimento, prazer e dor, sexo e morte; acredita que a Morte (com letra maiúscula) espera-nos de braços abertos ao longo de toda a nossa vida e preza o individualismo em uma sociedade cada mais mais fria e comercial.

• Por que os góticos se vestem de preto?

Preto: que é de cor escura; negro.
Que causa sombra; que traz escuridão.

Psicologicamente associada pelo inconsciente humano aos sentimentos de dor e tristeza, a cor preta confere um aspecto de mistério e pesar. Por sua grande facilidade em transmitir dramaticidade e negativismo, é a principal base da estética gótica.

• Qual a importância da maquiagem gótica?


A maquiagem, excessivamente pesada e teatral, é parte da caracterização cênica e ajuda a exprimir o sentimentalismo através de uma aparência mórbida, mutilada e muitas vezes doentia.
Ao contrário do que se possa imaginar, emprega - principalmente aos olhos - fortes graduações de vermelho, roxo e rosa (embora de, assim como acontece com as roupas, basearem-se sempre no preto).

• Por que góticos frequentam cemitérios?


Atraídos pela atmosfera austera e lúgubre dos cemitérios, muitos góticos - mas não todos - encontram entre as sepulturas a personificação de seu próprio mundo interior e sentem-se mais próximos e conscientes do frágil limite entre a vida e a morte.
Costumam apreciar a arte funerária e, tanto individualmente quanto em grupos, refugiam-se entre os mortos das agitações que os perturbam para encontrar tranquilidade e inspiração, ler ou ouvir música.

Quanto a frequentá-los durante a noite, que fique claro que isso nada tem a ver com atos de vandalismo que são muito comumente atribuídos aos góticos - mas sim com o fato de que, envolvidos pela escuridão da noite, os cemitérios tornam-se vazios e prazerosamente ermos.

• Por que os góticos preferem a noite?

Além de preteriem a exposição ao sol (uma vez que muitos procuram manter a pele alva e pálida), os góticos sentem-se mais atraídos pela aura fúnebre da noite. Inclusive, é quando vêem-se envolvidos pela sua escuridão que sentem-se um pouco mais imunes aos olhares e julgamentos que enfrentam nas ruas durante o dia.

• Existe alguma religião ou crença diretamente relacionada aos góticos?

Crenças milenares - como o Cristianismo e o Paganismo, por exemplo - costumam ser muito discutidas pelos góticos, mas nenhuma religião, seja ela de qualquer espécie, caracteriza a sua cultura.
Embora existam muitos seguidores da antiga Wicca e de outras vertentes pagãs que antecederam o período medieval, a grande maioria é constituída por agnósticos e, principalmente, ateus. Em extremo oposto ao que se costuma dizer, satanistas são muito raros.

• Góticos são mesmo tão sombrios e frios quanto aparentam?

Os góticos tendem a um humor irônico e até mesmo hipérbole ou indiferente, mas, naturalmente, cada um continua a ter sua própria personalidade. São comumente nostálgicos e introspectivos, mas não necessariamente frios.

• Para ser gótico, é preciso ser depressivo?


É importante ressaltar que, antes de pertencerem a qualquer tipo de grupo, todos são seres humanos que sofrem alterações de humor, sentem fome, frio e envelhecem ao longo dos anos. A depressão é um distúrbio psicológico que não deve ser confundido com os sentimentos de tristeza ou melancolia e muito menos com a cultura gótica.
Um gótico, independentemente do quão tétrica possa ser a sua aparência, pode perfeitamente ser o máximo expoente da alegria. Vê-lo sorrir, relacionar-se com outras pessoas que não chegam nem perto de ser góticas ou vestir-se com roupas que não pretas ou brancas não deve ser encarado como algo sobrenatural.

• É possível ser gótico mesmo sem vestir-se a caráter ou gostando apenas de rock?

Certamente que sim. Vestir-se a caráter é apenas uma maneira de exteriorizar idéias e opiniões. Existem góticos - embora sejam poucos - que não se vestem como tais, e estes são, em geral, góticos mais velhos que precisaram adequar-se ao trabalho ou que não sentem necessidade de desenvolver a caracterização cênica em situações normais do dia a dia.
E, quanto à música, o mesmo se aplica: o gótico não é apenas um gênero musical, mas também literário, artístico e social. Além do mais, não existem regras que definem o que é ou não permitido e correto; entretanto, acredita-se que o desejo de identificar-se como gótico seja uma consequência da empatia pelas várias - se não por todas - áreas da cultura.

• Existe muito preconceito em relação aos góticos?


Helena Bonham Carter e Tim Burton

Se nos referirmos à sociedade como um todo, pode-se dizer apenas que é lamentável assistir à capacidade das pessoas em criticar algo que elas sequer conhecem. A discriminação e o preconceito são praticamente palpáveis. Entretanto, a admiração e o verdadeiro respeito também podem ser vistos e sentidos, mesmo que em uma muito menor escala.
Infâmias, humilhações e estereótipos existem, sim, mas a segurança e a autoconfiança devem ser inabaláveis para que não se curvem diante dos muitos insultos que certamente virão.

• Como a família e as pessoas mais próximas costumam lidar com essa escolha?

Como a descoberta e respectiva identificação com a cultura gótica costumam acontecer durante o período naturalmente conturbado que é a adolescência, é normal que a reação dos pais e antigos amigos não seja das melhores.
Entretanto, nada mais compreensível: por terem acompanhado seus filhos em cada etapa da infância, é de se esperar que os pais sejam os primeiros a lançar mão de comentários desagradáveis sem nem mesmo preocupar-se em disfarçá-los. Mas, assim como a família, acredita-se que boa parte dos amigos consiga assimilar as mudanças que virão com o passar do tempo.

• Os góticos têm alguma tribo rival?

Tecnicamente, não. Embora atualmente exista certa tensão em relação aos recém-criados emos, os góticos têm como uma de suas principais características a tolerância, o respeito e a não-violência.
O fato é que os primeiros góticos surgiram há cerca de 25 anos a mais do que os emos, que vivem hoje a sua primeira e já decadente geração. Em sua maioria adolescentes vestidos de preto e exagaradamente influenciados pelo sentimentalismo pessimista, os emos passaram a ser confundidos com os góticos - que, em meio à febre deste novo modismo, passaram a ser pejorativamente chamados de emos.
Se não há conflito, há ainda menos aproximação. Embora a sociedade pareça sentir prazer em alimentar a antipatia entre os dois grupos, é verdade que os góticos costumam considerar os emos como cópias mal e porcamente forjadas de seus hábitos e idéias.

Quanto a punks e, principalmente, skinheads, não é necessário dizer que não existe uma rixa, mas sim um absurdo caso de discriminação que transforma não apenas góticos - como também homossexuais, estrangeiros e negros - em vítimas de agressões físicas e morais.

• Em que consiste a música gótica?

A música gótica tende a reunir instrumentos sinfônicos ao ritmo profano das mais agressivas vertentes do metal. Inclusive, o gothic metal utiliza-se tanto de sopranos (femininos) agudos quanto de vocais sombrios e guturais que inspiram violência à perfeita união das músicas clássica, sacra e erudita com o metal, o doom e o punk rock.
As letras, pesadas e impregnadas pelo sentimentalismo mórbido e ultra-romântico, podem referir-se tanto às percepções do compositor quanto à sociedade ou tratar de temas épicos, míticos e religiosos.

• Quais são os principais nomes da música gótica atual?


Type O' Negative

Além das clássicas e pioneiras The Cure e The Sisters of Mercy, nos últimos anos nomes como Lacrimosa, Tristania, Type O' Negative, Theatres Des Vampires, Nightwish, Epica e Era ganharam grande prestígio entre o público gótico; e, embora não se dirija exclusivamente a este tipo de público, a norte-americana Evanescence é um dos maiores ícones.
Existem também outras menos conhecidas - mas não menos importantes ou apreciadas - como Within Temptation, Lacuna Coil, My Dying Bride, Lacrimas Profundere, Blackmore's Night e Mortal Love.

• Quais são os principais expoentes da cultura gótica?


Evanescence

Os alicerces são poetas tradicionais, como o inglês Lord Byron; Álvares de Azevedo, principal autor do ultra-romântismo brasileiro no século XIX; e Edgar Allan Poe, célebre figura do terror norte-americano. Mas outras grandes inspirações da atualidade são o cineasta Tim Burton, que encanta com a estética sombria e adoravelmente bizarra de suas produções; e os escritores Anne Rice, autora de crônicas sobre vampiros e anjos, e Stephen King, mestre do suspense moderno.

Mesmo que de maneira relativamente hipérbole, a vocalista, pianista e principal compositora do Evanescence, a também norte-americana Amy Lee tornou-se um dos principais ícones para góticos de todo o mundo após o estrondoso sucesso de sua banda. Ainda no cenário musical, temos a figura pessoal de Tilo Wolff - fundador da alemã Lacrimosa.

Drácula, de Bram Stocker, e Nosferatu, baseado em Drácula e dirigido por F. W. Murnau, são duas criações clássicas que também inspiram a aparência de muitos góticos. Quanto ao teatro, os grandes nomes são de obras como O Fantasma da Ópera, de Gaston Leroux; Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet, de Christopher Bond; e Hamlet, de William Shakespeare.
.

Nenhum comentário: