domingo, 9 de junho de 2013

“E Alice seguiu o Coelho Branco até chegar a uma toca. Ela não quis saber as consequências, Alice apenas obedeceu sua curiosidade.”


A toca do coelho dava diretamente em um túnel, e então se aprofundava repentinamente. Tão repentinamente que Alice não teve um momento sequer para pensar antes de já se encontrar caindo no que parecia ser bastante fundo.

Ou aquilo era muito fundo ou ela caía muito devagar, pois a menina tinha muito tempo para olhar ao seu redor e para desejar saber o que iria acontecer a seguir. Primeiro, ela tentou olhar para baixo e compreender para onde estava indo, mas estava escuro demais para ver alguma coisa; então, ela olhou para os lados do poço e percebeu que ele era cheio de prateleiras: aqui e ali ela viu mapas e quadros pendurados em cabides. Alice apanhou um pote de uma das prateleiras ao passar: estava etiquetado "GELEIA DE LARANJA", mas para seu grande desapontamento estava vazio: ela não jogou o pote fora por medo de machucar alguém que estivesse embaixo e por isso precisou fazer algumas manobras para recolocá-lo em uma das prateleiras.

Para baixo, para baixo, para baixo. Essa queda nunca chegará ao fim?

Ela começou a notar curiosamente que as prateleiras nas paredes daquele buraco sem fim foram substituídas a cada metro mais abaixo por objetos, às vezes brancos, às vezes amarelados, que a princípio ela não compreendeu o que seriam de fato. Até que Alice pode ver com perfeita clareza um crânio de uma pessoa, igual aos que já vira em um livro de gravuras sobre o corpo humano. Ela se virou para o outro lado de não repugnante que aquela imagem lhe era, porém para sua surpresa e terror, as paredes de pedra e areia escura, estavam ficando quase que completamente tomadas por aquelas ossadas. Às vezes apenas algumas partes, outras, como ela notara uma ou duas vezes durante aquela queda, havia um esqueleto completo.

"Eu adoraria saber quantas milhas eu caí até agora, tudo parece estar ficando tão diferente", ela disse em voz alta e estremecida, abraçando seus próprios braços se protegendo de um frio que não existia. O frio do medo. "Eu devo estar chegando em algum lugar perto do centro da terra. Deixe-me ver. Até aqui eu já desci umas 400 milhas, eu acho...”

Logo Alice foi interrompida bruscamente pelo seu vestido que levantara de maneira tão violenta que machucara seu rosto; ela estava caindo mais rápido agora, a cada minuto numa velocidade maior.

Alice não pode conter um grito, e o seu coração acelerado pelo susto atrapalhava um pouco os seus pensamentos e ela não conseguia mais saber se caia para baixo ou para cima, pois tudo parecia ao contrario agora. “Ora, como posso estar caindo para cima? Isso não é possível!” Ela falou para si mesma enquanto caia cada vez mais, e mais...

Reparou que os ossos nas paredes eram agora apenas um borrão de cores, até que uma escuridão tomou conta de tudo e ela só pode ver pequeninos insetos cor de fogo que pareciam cair também, ou voar ao seu redor, ela não sabia ao certo.

Um deles encostou em sua pele e para sua surpresa e desagrado ele a queimou. Ela soltou um terrível grito que ecoou por aquele túnel sem fim quando dezenas daqueles insetos de fogo grudaram nas suas roupas e nos seus cabelos, que foram aos poucos pegando fogo, porém sua pele continuava intocada, apesar de sentir toda a dor de cada nova queimadura.

Seus olhos lacrimejavam e sua garganta parecia que ia estourar com aquele grito sem fim. Até que ela silenciou. O ar que se tornara quente a sufocava, e o choro da criança que nunca seria ouvido por ninguém era engolido pela escuridão.

Alice não sabe quanto tempo durou, se era tudo um pesadelo doentio, macabro. Os insetos de fogo repentinamente a abandonaram naquela queda e uma escuridão sinistra tomou conta de tudo. Seus longos cabelos não existiam mais, apenas mechas curtas. Seu belo vestido estava em farrapos e cinzas. Era isso que dava não seguir os próprios conselhos. Como iria para escola agora? Como voltaria para a superfície.

O corpo tão molestado agora da jovem garota batia aqui e ali nas paredes de pedra e isso foi causando a Alice mais dor. Seus braços começaram a sangrar quando parte da pele foi sendo arrancada ao passar nas rochas quentes das paredes.

Ela não sabe se foi apenas um minuto aterrorizante, ou dias caindo direto. Encolhida e em um choro silencioso. Alice caiu, quase desacordada em um chão duro e gelado, com um impacto mais leve do que esperava, ou talvez aquilo não fosse quase nada comparado ao que passou durante a queda.

Seus olhos inchados pelas lágrimas se abriram por breves segundos, o suficiente para ver um grande portal, feito do que ela supôs de um metal avermelhado brilhante.

O portal se abriu e as coisas que se seguiram foram aterrorizantes demais para Alice conseguir descrever. Talvez continuar caindo pela eternidade ou nunca ter seguido aquele coelho teria sido muito melhor do que ela ter descoberto da pior maneira que a curiosidade, por mais inocente que fosse, sempre nos conduzia ao Inferno.


– Baseado na obra de Lewis Carroll // by Will Dávila

Nenhum comentário: